Carta aberta à Polícia Rodoviária Federal de Santa Catarina
Choque e incredulidade tomaram nossa família na manhã do dia 09 de dezembro de 2011.
Nosso amado Leonardo, com apenas 36 anos, foi brutalmente levado de nosso convívio. A morte é
parte da vida, mas o modo que tudo ocorreu desafia a compreensão de todos nós. É vã qualquer
tentativa de encontrar lógica nestes acontecimentos e acreditamos que talvez noutra existência
possamos ter resposta. Leonardo era um filho dedicado e amoroso – o melhor de todos nós – irmão
maravilhoso, marido cúmplice e companheiro, amigo da melhor cepa. Era um homem bom na
singeleza e profundidade desta expressão.
Desde criança demonstrava ser um militar nato. Foi lobinho, escoteiro e quando adulto
passou onze anos no exército brasileiro; depois, prestou concurso e ingressou na Polícia Rodoviária
Federal onde esteve por exatos seis anos. Era extremamente qualificado e hábil no desempenho das
suas funções, respeitado e admirado por seus colegas de profissão. Agora mesmo tinha sido
aprovado para ser instrutor de motociclistas para a Copa de 2014. Amigo fiel e sempre prestativo,
assumiu a vida na PRF com total dedicação, entusiasmo e integridade. Não interessava-lhe a
mesmice dos gabinetes mas a vida sobre rodas. Morreu fazendo o que gostava, lutando o bom
combate como fazem os guerreiros.
Tão logo a realidade abateu-se sobre nós, com o apoio dos amigos fizemos os
encaminhamentos de praxe, dando tempo para que a doação de seus olhos abram luz a quem não
enxerga. Quando optamos pela cremação queríamos guardá-lo em nosso coração e não num lugar
físico determinado. Queríamos tudo rápido - no mesmo dia - para evitar o prolongamento de nosso
sofrimento. Recebemos inúmeros pedidos da PRF para adiar a cerimônia para o dia seguinte para
que seus colegas pudessem homenageá-lo. Relutamos em aceitar mas concordamos. A decisão
mostrou-se acertada e surpreendente. As homenagens feitas a Leonardo demostraram o quão
querido e admirado por sua corporação ele era. Para que o cortejo seguisse seu caminho até
Balneário Camboriú, seus companheiros de PRF pararam a beira-mar norte, fechou-se a ponte e a
BR 101 em atitude que acreditamos sem precedentes e digna de chefe de estado. Nada mais justo
para quem deu a vida em prol da sua corporação e dos seus semelhantes. Parou-se o trânsito quando
para nós tinha parado o universo. A presença maciça de policiais que em sua maioria estavam em
folga demonstrou a consideração que Leonardo tinha da sua corporação. Os discursos, as sirenes, os
rasantes de helicóptero, os infindáveis aplausos mostraram a solidariedade e a comoção que a morte
de um policial em combate causou na sociedade catarinense. Esta percepção também chegou aos
meios de comunicação que deram ampla divulgação ao caso. A violência sempre nos pareceu coisa
de televisão e assusta saber que todos nós estamos sujeitos a ela.
Quanto aos criminosos que covardemente o privaram da vida, não nutrimos ódio. A ausência
de Leonardo oblitera quaisquer outros pensamentos. O ódio é um veneno que só toma quem o
oferece. Contudo, é justo e nos conforta saber que estes bandidos foram presos no mesmo dia do
seu crime com extrema competência de todas as polícias do Estado de Santa Catarina e dos poderes
instituídos. Que saibam os delinquentes que não se tira a vida de um dos anjos das estradas
impunemente e sem que paguem duramente por seus crimes. Que este exemplo ajude a evitar que
outros policiais venham a sofrer esta barbárie.
As orações dos colegas da PRF, dos amigos e familiares tem nos consolado e auxiliado a
passar por este momento tão duro e difícil. Obrigado por tudo. Temos a crença que as elevadas
homenagens feitas pela PRF ao Leonardo são apenas o prenúncio de homenagens ainda maiores que
está a receber no outro plano da existência.
Atenciosamente, subscreve esta missiva a família de Leonardo Leon Valgas dos Santos.