segunda-feira, 5 de setembro de 2011


Psicologia

Filhos, na separação dos pais

O maior problema dos casais em vias de se separarem é, em geral, a dificuldade de conservar a lucidez. Normalmente, sentimentos como: frustração, raiva, mágoas, ressentimentos, tomam conta do casal frente a diversos fatores que culminam na separação. Quando o casal tem filhos, fica ainda a dificuldade da passagem de uma relação conjugal para umaconvivência onde as funções de pai e mãe precisam ser mantidas e são indissolúveis.Alguns enfrentam esta passagem rompendo vínculo também com os filhos, outros continuam unidos pelo ressentimento e mágoa. Outros tentam comunicar a separação, não se dando conta do quanto a criança já vivenciou em termos de clima de tensão neste percurso; e há casos em que a separação é vivida como um alívio. A primeira sensação da criança quando os pais estão se separando é a do abandono e rejeição. Até porque os pais, muito envolvidos com seus próprios sentimentos, estão mais voltados para si próprios e a criança é deixada à parte dos acontecimentos. Ao contrário do que muitos pensam, ela percebe e absorve toda a tensão do ambiente, percebe a relação que se vai tomando diferente, mesmo que os pais mais cuidadosos procurem evitar discussões e brigas na presença dela. E importante que a criança seja informada do que está acontecendo. Mesmo que o casal ainda não tenha claro algumas decisões, poderá informa-la objetivamente e com clareza sob o que está ocorrendo, como por exemplo: “Papai e mamãe ou nós não estamos mais gostando de morarmos juntos, nós não sabemos ainda o quê decidir a respeito, isto não tem nada a ver com você, é alguma coisa que está ocorrendo com papai e mamãe”.Mesmo que a informação traga angústia para a criança, não será a

angústia da confusão, da tentativa de não considerar ou de negar aquilo que ela percebe e ela não será responsabilizada pelo que está ocorrendo, uma vez que outro fator bastante comum é a criança sentir-se culpada pelo ocorrido. A criança não demonstra o que sente através só das palavras, pode expressar-se de outras formas como: desenhos, brincadeiras, enurese (xixi na cama), rendimento escolar diferenciado, crises de bronquite, asma, alergias, etc, O adulto atento deve aproveitar esses momentos para conversar sobre o assunto com a criança. Esta oportunidade dará a criança condições de expor suas dúvidas, de falar, de mostrar seus sentimentos quer sejam eles de angústia, medo, raiva, mágoa, abandono, etc. Com um contato freqüente com os dois ela vai continuar sentindo-se amada e amando. E a relação conjugal que está sendo desfeita, mas os pais precisarão continuar a dar assistência e tomar decisões com relação aos filhos. Mas nem sempre isto acontece com alguns casais. Alguns transformam claramente as crianças em mensageiras: “Avisa a mamãe que eu não quero o namorado dela aqui em casa” outros o fazem de forma mais implícita falando mal do outro ou jogando a criança contra o outro membro, ou presenteando-a para competir com o outro membro, na tentativa de ganhar para si a cumplicidade da criança. Desta forma a criança sentir-se-á em conflito com relação aos seus próprios sentimentos com medo de gostar ou de demonstrar seu afeto e o outro ficar ressentido. Isto gera culpa, estresse e angústia. Novos adultos que possam vir a formar novas relações, devem ser introduzidos lenta e gradualmente na vida dessa criança e o ponto principal é evitar as misturas das relações, como o novo marido ser introduzido na vida da criança como o novo pai. Embora este venha a exercer no dia a dia funções do pai, como: dar limites, verificar e ajudar em deveres de casa, etc, nunca será o pai dessa criança. O pai, mesmo distante ou até ausente fisicamente, mantém seu espaço na vida e na história da criança. Ela pode até amar o atual marido da mãe como se fosse pai e até preferi-lo como se o fosse, mas jamais será de fato pai dela. O sofrimento é inerente à situação uma vez que existem envolvimentos de afetos, expectativas, fantasias, frustrações, mas é preciso aprender a lidar com ele e ir ajudando a criança a confiar na sua própria capacidade de lidar com a dor, estando junto com ela, ouvindo-a, acompanhando-a e ajudando-a a se fortalecer. Quando preciso, procurar ajuda de um psicólogo, até mesmo durante a separação, onde algumas decisões necessárias com relação a bens materiais, saída de casa, filhos, pensão, possam ser definidas com maior clareza. Uma separação bem administrada ajuda a criança a acreditar que amar e se relacionar é possível.

Nina Eiras Dias de Oliveira - Psicóloga, psicoterapeuta existencial infantil, membro do GPFE ( Grupo de Psicológia Fenomenológica Existencial de Petrópolis)
e-mail: nina_oliveira@petronline.com.br