segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Psicologia
Sexualidade

Falar de sexualidade é falar de um assunto difícil. Não só porque este assunto está entremeado com tabus, crenças, "pré-conceitos", desconhecimentos, vergonhas, mas porque falar de sexualidade é também falar de prazer.

E este é um assunto que lidamos, culturalmente, mal. Pertencemos a uma cultura onde o sacrifício, a renúncia, a vitimação são valorizados. Fica complicado então, falar de prazer, de felicidade, de conquistas pessoais. Ao podermos comprar algo (carro, casa, roupas, etc), muitas vezes escutamos: "Está podendo, hein!", "Está com dinheiro!". A inveja retratada na mensagem revela não só: como eu gostaria de estar podendo como você", como também deixa transparecer uma "se você tem é porque roubou de mim ou de alguém".

Lameados na cultura da corrupção em meio a tantos "Ilson Escócia, Lalau, Pitta, Georgina..." parece não sabermos mais distinguir aquele que tem por conquista pessoal, e aquele que tem por que de fato roubou do(s) outro(s).

Falar de como se lida com prazer em nossa cultura pode significar uma trajetória por diversas vertentes. Mas voltemos à da sexualidade.

Desde pequena, a criança já vai sendo informada e formada por aqueles que lhe são significativos. Isto acontece a partir do momento em que através das sensações de calor, frio, aconchego, bem estar, desconforto, ela começa a ter as primeiras impressões sobre seu corpo através do toque e da relação com o outro. Neste contato com o outro, a criança vai se construindo e se fazendo ser. São os primórdios de sua identidade. Todo o jeito como pai e mãe relacionam-se enquanto homem, mulher, enquanto casal, enquanto pais, transmitem informações que farão parte da formação desta identidade.

"Na fenomenologia, compreendemos o homem como um ser constituído pelos outros. Sem o outro o homem não é. Esta coexistência não é o resultado,

mas condição ontológica, uma condição em que lhe dado existir. Os outros constituem a identidade do próprio indivíduo. O ser-como-os-outros é uma característica estruturante da humanidade dos homens". (1)

A criança descobre através também de sua genitália pertencente a um gênero. Aprendemos a nos comportar como homem e como mulher no caldo dos conceitos, estereótipos, preconceitos, indagações e questionamentos.

Falar de sexualidade é também aprender a lidar com as diferenças que existem entre o homem e a mulher. Uma mulher excita-se diferente do homem, por exemplo. Muitos se acusam de "tarados" ou de "frígidas" por conta do desconhecimento dessas diferenças. Muitas mulheres, acostumadas à resignação, entram no ritmo do homem pra satisfazê-lo, sem terem coragem para parar este movimento a fim de aprenderem a ter prazer juntos, a se darem prazer um ou outro também.

Falar de sexualidade é falar de cuidar-se, é falar de como se lida com o íntimo, o privativo e como o que é social.

A sexualidade é construída ao longo da vida e encontra-se necessariamente marcada pela história, cultura, afetos e sentimentos, expressando-se com singularidade em cada pessoa.

(1) Analítica do Sentido - Dulce Mara Critéli

Os textos publicados anteriormente com o título: "Ser pai e ser mãe... ô coisa difícil" tiveram como fontes os seguintes artigos:

Filhos felizes - Heloísa S. ribeiro Gomes; Indivíduo, Família e Casamento - Raquel Lea Rosemberg; Casamento e Individualidade - Ieda Porchat; Vida em família, chegam os filhos; duas maneiras de viver o casamento: trocas positivas ou esvaziamento mútuo? Autores desconhecidos.